Os professores estão fora do debate público sobre a educação e suas
vozes não estão presentes nas coberturas jornalística da América Latina,
segundo pesquisa do Observatório da Educação feita em 18 jornais do
continente. Foram analisadas mais de 1.200 reportagens de maio a julho
deste ano. As matérias indicam que as políticas públicas implantadas, os
novos temas, disciplinas e materiais para as aulas são modificados sem
que os professores sejam consultados sobre a política educacional.
“O
professor é sempre um personagem e nunca uma fonte para balizar a
política pública. E a má qualidade do ensino é sempre atribuída a eles.
Estão sendo responsabilizados, mas não têm seu direito de resposta”,
disse Fernanda Campagnucci, editora do Observatório da Educação, que
participou do lançamento de Rede pela Valorização dos Docentes
Latino-Americanos, hoje (9), na capital paulista.
Segundo
Fernanda, a análise indicou que entre os temas mais comentados nos
jornais estão a qualidade, seguida dos sistemas de avaliação, problemas
de infraestrutura e violência nas escolas. Depois aparece a questão das
tecnologias de informação na educação. “Nesse caso, dependendo do
enfoque, entra em conflito com o docente, porque tem problemas de
informação e uma ideia de que o aluno não precisa do professor para
aprender porque consegue aprender sozinho com o computador”. Outro
problema destacado nas reportagens analisadas são as greves e
paralisações.
A vice-presidente da Internacional de Educação da
América Latina, Fátima Aparecida Silva, disse que no geral a categoria
dos professores é composta principalmente por mulheres, que chegam a ser
80% no ensino infantil e médio, enquanto no superior há mais homens.
Além disso, apontou que os professores estão envelhecendo ao redor do
mundo, já que a média de idade é de 45 anos. “A profissão não atrai mais
gente jovem. Nos últimos dez anos, os mais novos ficam cerca de quatro
anos dando aula até encontrar outra ocupação melhor.”
A ausência
de formação é presente em todos os países, assim como a fata de um
processo de negociação que traga valorização para a profissão, com
diferenças entre a zona rural e urbana, tanto na formação quanto na
remuneração. “Quando conversamos com os professores que vivem o dia a
dia da aula, percebemos que eles reclamam ainda do número excessivo de
alunos em sala de aula e da falta de participação nas políticas
públicas, além da ausência de plano de carreira e do ressentimento por
serem culpados pela má qualidade educacional.”
A coordenadora do
Comitê Diretivo da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação
(Clade), Camila Croso, disse que tem notado a tendência de
desvalorização dos trabalhadores da educação, além do desprestígio e do
processo de culpabilização e criminalização. “São tendências muito
preocupantes, mas há também processos de resistência a tais tendências.
Mas se sobressai o conjunto desvalorização, desprestígio e
criminalização.”
Ela destacou ainda a tendência à privatização
traduzida no nome de parcerias público-privadas, que aponta para outro
lado, procurando ser atrativa. Disse também que há um marcante discurso
sobre resultados na aprendizagem que não avalia os rumos da educação,
mas dentro do foco de escola como fábrica de seres homogêneos montados
para o mercado de trabalho.
“Esse sistema de ranqueamento é
preocupante porque o resultado é medido sobre o quê? Aí voltamos ao
ponto de partida que é perguntar para que serve a educação. Toda análise
parte do aluno homogêneo que tem que responder ao mercado de trabalho”,
assinalou Camila.
Ele também reforçou que há uma criminalização
de professores e até dos alunos. “Há uma perda de noção do coletivo,
porque há ataque aos sindicatos. Assim individualiza os professores e
coloca o sistema de avaliação com prêmio e castigo. Desvaloriza o
professor, porque leva a política de ensinar para o teste, para ir bem
na prova. Adapta o currículo, se articula como o não protagonista do
fazer pedagógico.”.
Guillermo Williamson, da Universidad de La
Frontera, do Chile, disse que em seu país a educação apresenta cifras de
desigualdade e que não há gratuidade para o ensino. Lá, as
universidades são pagas ou se têm bolsas de estudo para os pobres. “No
Chile, 40% dos jovens podem ir à Universidade, mas se a família tem dois
filhos precisa escolher qual deles pode ir ter o ensino superior”.
Segundo
ele, assim como no Brasil. os jovens estão desistindo de ser
professores por conta da precarização do ensino. “Temos que trabalhar
fortemente na educação pública estatal e podemos buscar a gestão social
com cooperativas mistas com o Estado”. Para ele é preciso retomar a
função do professor, que em sua avaliação é ensinar os alunos e ser um
mestre. Além disso ele destacou que é preciso que o professor recupere
sua autoridade em sala de aula.
Fonte: NE10